As oportunidades e cases de empreendedorismo ligados à cultura surda foram tema de uma roda de conversa no Câmpus Palhoça Bilíngue do IFSC na última quarta-feira, 25 de setembro. A atividade fez parte das comemorações do Dia Nacional do Surdo e do aniversário de entrega do câmpus à comunidade, celebrados na quinta (26), e teve a participação de surdos e ouvintes que são proprietários ou trabalham em empresas voltadas à oferta de serviços para surdos. Na roda, eles contaram suas experiências pessoais e profissionais para um público formado principalmente por estudantes do câmpus.

Uma das participantes da roda de conversa, Fabíola Borba, é diretora geral da Signa, empresa de Florianópolis especializada em cursos de capacitação em língua de sinais (Libras). Criada em 2016, a empresa atende hoje todos os estados brasileiros por meio da educação a distância. Os cursos são de várias áreas, como línguas, finanças e comunicação visual, entre outras. “A gente acredita que aa educação pode transformar vidas e que não tem nenhuma profissão que o surdo não possa fazer”, disse. A própria Signa possui vários surdos entre seus funcionários.

Um deles é Darley Goulart, estudante do curso superior de tecnologia em Produção Multimídia do Câmpus Palhoça Bilíngue. Na roda de conversa, ele contou um pouco sobre sua trajetória profissional e sobre o que o motivou a trocar sua cidade-natal, Joinville, onde tinha um emprego do qual não gostava, para morar em Florianópolis com o objetivo de estudar e trabalhar. 

“O importante é sempre ter vontade de aprender e sempre aprender mais. Se a pessoa tem um sonho, tem que aceitar o desafio. Foi assim que aconteceu comigo”, comentou Darley. No caso, ele queria trabalhar com produção audiovisual, e é o que faz hoje na Signa, onde atua como editor de vídeos e arrisca-se, inclusive, na frente das câmeras, fazendo a interpretação de conteúdos do site em Libras. 

O objetivo de toda empresa é atender uma necessidade do mercado. Foi assim que Thuanny Galdino criou a Ealis em 2015. Ela passou a fazer a intermediação entre os organizadores de eventos, entrevistas ou reuniões e os intérpretes de Libras, com apoio de consultores surdos, que ajudavam os intérpretes a compreender o conteúdo do evento (tecnologia, por exemplo) ou a procurar um intérprete com o perfil mais adequado à situação. “Buscamos qualidade no nosso trabalho, com intérpretes profissionais”, resumiu.  

Ex-funcionário da Signa e da Ealis, João Gabriel Ferreira criou em fevereiro de 2019 a 4Sentidos, empresa que atua com tradução e interpretação Libras-português e com produção de vídeos. João Gabriel é surdo, carioca, tem uma trajetória profissional ligada à televisão (os pais eram produtores audiovisuais e ele trabalhou na Rede Globo) e chegou a Florianópolis em 2011 para estudar Letras/Libras na UFSC, onde formou-se e fez também o mestrado na mesma área. Atuou como consultor de tradução Libras-Português e, depois de descobrir diversas empresas dos Estados Unidos que haviam sido criadas por surdos, pensou: “por que não criar uma empresa também?”.

Para criar e administrar a empresa, conta João, ele teve que aprender diversas coisas novas, como o que é e como criar um CNPJ, redigir contratos e criar uma marca. “Contei com o apoio de muitas pessoas para isso. E, se nós conseguimos, vocês [estudantes surdos que assistiam a roda] também conseguem”, disse.   

Programação

O Dia Nacional do Surdo e o aniversário do Câmpus Palhoça Bilíngue foram comemorados com programação que incluiu oficinas, roda de conversa e apresentações culturais abertas à comunidade. O Dia Nacional do Surdo, instituído por meio da lei 11.796, é 26 de setembro. O principal objetivo da data é propor a reflexão e o debate sobre os direitos e a luta das pessoas surdas por seu lugar na sociedade. A data também foi escolhida para marcar a entrega do Câmpus Palhoça Bilíngue do IFSC à comunidade, em 26 de setembro de 2013.

Por Felipe Silva | Jornalista