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A campanha “IFSC contra o preconceito”, que está sendo promovida pelo Comitê Permanente de Direitos Humanos do IFSC, irá abordar, nesta semana, questões que envolvem a saúde da população LGBTQI+. Uma pesquisa do National Center for Transgender Equality mostra que 40% das pessoas trans já tentaram suicídio e um estudo da Universidade da Califórnia (EUA) mostra que a população LGBTQI+ costuma pensar cerca de 14 vezes mais em tirar a própria vida em comparação com o restante da população.

Numa sociedade onde o padrão é o da heteronormatividade, o sujeito LGBTQI+ está a todo momento tendo sua existência deslegitimada. O que traz fortes consequências para a autoestima. “Se costuma usar o termo homofobia internalizada para se referir a esse processo em que o sujeito LGBTQI+ introjeta os comportamentos vistos como “normais”, passando até mesmo a não se validar, o que pode trazer, por consequência, uma baixa autoestima. Isso de se dá de forma inconsciente, o que torna esse sujeito mais vulnerável ao suicídio e à depressão. Numa sociedade em que ser hétero e cisgênero é normal, essa pessoa está no erro, no pecado. Mesmo que assumidos ou bem resolvidos com sua sexualidade, alguns indivíduos mascaram a homofobia internalizada em forma de sabotagem, frustrações, doenças, isolamento social, depressão, dificuldade de interação familiar e na não manutenção de relacionamentos”, explica o psicólogo Rodrigo Gouvêa.

Ele avalia que a reprodução de imagens caricatas da população LGBTQI+, em profissões estereotipadas, que muitas vezes são feitas pela mídia, acabam por contribuir ainda mais para esse processo de baixa autoestima. “Precisamos falar da representatividade da população LGBTQI+ em espaços de poder, mostrar que ela pode chegar até este lugar, que eles têm voz.” 

Nesse processo de valorização da pluralidade LGBTQI+, a linguagem inclusiva, em que se propõe uma divisão não binária da língua, também tem contribuído. “A linguagem inclusiva dá voz a essas pessoas, é um lugar de inclusão. Há grande resistência porque é um novo idioma, mas precisamos estar abertos para dar visibilidade e voz.”

Nesse processo, o papel da escola e da família são fundamentais. “A família é permeada por uma série de crenças, bagagens religiosas onde há o reforço do que é certo e errado, um lugar do julgamento. A escola pode ser mais acolhedora ao ouvir este jovem e ao promover um movimento junto com a família para quebrar essas crenças. Esse é um processo em que é preciso acolher a família também.”

Outra questão levantada pelo psicólogo é com relação ao nome social, que é o nome escolhido pela pessoa transexual, travesti ou transgênero que é diferente do seu nome no registro civil. “Pode parecer mimimi para alguns, mas o nome social é uma forma que a pessoa escolheu de ser quem, ela deve ser respeitada por essa escolha.”

Um estudo norte-americano publicado pelo Journal of Adolescent Health (2018) que ouviu 129 transgêneros, transexuais e com identidades diferentes de cis, mostra que respeitar o nome social reduz os riscos de suicídio e de depressão. A pesquisa mostra que poder usar o nome escolhido em mais ambientes apresenta até 71% menos sintomas de depressão, fazem com que a pessoa pense 34% menos em suicídio e tem o risco de tirar a própria vida reduzido em 65%.

Nome social no IFSC
Desde 2010, estudantes do IFSC podem solicitar a inclusão do nome social nos registros acadêmicos. No caso de maiores de 18 anos, é possível requerer, por escrito, a inclusão do nome social no ato da matrícula ou a qualquer momento no decorrer do ano letivo.

Estudantes menores de 18 anos também podem solicitar o uso do nome social, mediante autorização dos pais e/ou responsáveis por escrito. O nome social deve constar em todos os registros internos sendo que no histórico escolar, em declarações, certificados e diplomas constará apenas o registro civil.

É preciso ocupar espaços de controle social para que sejam pensadas políticas públicas para a população LGBTQI+
O psicólogo Lucas Guerra (CRP 12-11920) pesquisou, em sua dissertação sobre políticas sociais e dinâmicas regionais, a participação da população LGBTQI+ em espaços de poder e de controle social como os conselhos municipais onde decide-se, por exemplo, como serão investidos os recursos públicos voltados para a saúde. Sua pesquisa-ação se deu em Chapecó onde analisou as políticas públicas de saúde voltadas para a população LGBTQI+. O estudo foi publicado recentemente no livro “Pesquisa-ação, empoderamento de ativistas LGBTI+ e controle social no SUS”. “O que eu observei é que quanto menos representatividade em espaços de controle social, menos trânsito de ideias nossas vão ser colocadas naquele espaço. Se não existe uma representação nesses espaços, esses temas não entram na agenda pública.”

No caso de Chapecó, não havia, na época da pesquisa representantes da população LGBTQI+ no conselho municipal de saúde. “Não há em Chapecó, uma política pública específica para as pessoas trans, por exemplo. O que eu observei na minha pesquisa é que muitas pessoas trans têm receio de procurar as unidades de saúde por medo de não serem respeitadas. O que costumava acontecer, no caso das profissionais do sexo, é que elas procuravam o Gapa ou pediam para que as donas dos estabelecimentos em que moravam irem até uma unidade de saúde simulando sintomas, para procurar remédio. Quando se analisa também as campanhas do SUS, a população LGBTQI+ costuma ser o público-alvo apenas de questões relacionadas a HIV ou ISTs, mas de um modo mais amplo, nós não aparecemos em outras divulgações.”

O psicólogo lembra que ao falar sobre saúde é preciso pensar no conceito utilizado pela OMS, em que não é somente a ausência de doença, mas a possibilidade de viver uma vida íntegra e digna. “Como falar em saúde mental para a população trans quando as únicas opções de trabalho são o de profissional do sexo ou em serviços em que elas ficam escondidas para não aparecer ao público, como de telemarketing ou frigoríficos, como na região de Chapecó?”.

Ao falar sobre saúde mental, Lucas avalia que a pandemia tem contribuído ainda mais para os quadros de ansiedade e de depressão da população LGBTQI+. “Com a pandemia, muitas pessoas LGBTQI+ ficaram em isolamento social dentro de famílias que não as aceitam, estão em sofrimento sem conseguir ter o respaldo de pessoas próximas, o que contribui para a fragilização da saúde emocional.”

Em sua pesquisa, Lucas também apresenta um histórico sobre o movimento LGBTQI+ em Chapecó. “Estudar a noite de Chapecó foi fundamental para entender a organização do movimento. Porque é a partir dos anos 2000, através de publicações pela internet, que a população LGBTQI+ começa a se organizar por conta de baladas e festas que aconteciam de forma escondida ou eram itinerantes. Foi assim que começou-se a construir uma rede de contatos, o que ajudou a consolidar um movimento LGBTQI+ no oeste catarinense que culminou, em 2016, com a criação da União Nacional LGBT de Chapecó, a Unalgbt. Por conta dessa organização, foi possível realizar a parada LGBTQI+ em 2017 com a participação de aproximadamente duas mil pessoas, embora o movimento seja muitíssimo maior do que a UNA, e jamais contido por uma ou outra organização que exista ou venha a surgir.”

Ao falar sobre as políticas públicas voltadas para a educação, Lucas lembra que a escola deve ser o espaço da ciência. “Há uma evasão de estudantes LGBTQI+, sobretudo de pessoas trans, indicadas na literatura científica. A escola acaba por muitas vezes reproduzindo um binário social naturalizadamente cisgênero. Há uma negligência histórica sobre as temáticas de gênero e sexualidade, que deveriam ser tratados como temas transversais, conforme a lei de Diretrizes e Bases da Educação, não é só uma questão de Biologia para se falar sobre reprodução ou gravidez na adolescência. Há um movimento que reproduz uma série de concepções falsas que chamam de ‘ideologia de gênero’, mentindo que há uma agenda LGBTQI+ para conversão de gênero ou sexualidade nas escolas, e isso não existe. É preciso que o estudante entenda o que acontece no seu corpo e nas suas experiências emocionais, com honestidade.”

Lucas está atualmente pesquisando para sua tese a narrativa de pessoas cisgêneras se posicionando contra as pessoas trans analisando comentários de notícias publicadas na internet. “O que eu tenho observado é que frequentemente os comentários costumam estar associados a algumas temáticas, como a da “biologização”, ou seja, a utilização da narrativa biológica, menino nasce menino e menina nasce menina, como se o corpo nascesse com uma identidade. Outra temática bastante comum é a da religiosidade cristã, em que se utiliza de narrativas bíblicas para falar que Deus não aceita essa mudança. Costuma-se também acusar as mulheres trans de não serem mulheres ou de sexualizá-las.”

Por Beatrice Gonçalves | Jornalista do IFSC

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